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Aprenda a identificar se o seu filho(a) #APLV tem reação do tipo FPIES

Quem sou eu?

Meu nome é Juliana Maia. Sou nutricionista clínica há 13 anos. Tenho pós graduação em nutrição clínica e sou especialista em alergia alimentar – em APLV (alergia à proteína do leite de vaca).

Minha história com APLV

Minha história com a APLV começou há três anos. Meu filho, João Artur, nasceu em 2016, e um dia, ao trocar sua fralda, me deparei com um mar de sangue.  

Como mãe de primeira viagem, entrei em desespero! 

Meu filho já chorava muito, dormia pouco. E como eu não tinha nenhum comparativo, para mim aquilo era o normal. Porém não estava tudo normal. Quando vi o sangue soube disso. O diagnóstico do João Artur foi rápido! 

Por coincidência, fomos atendidos, na época, por uma gastropediatra. Em termos de diagnóstico, descobrimos rápido. Porém, eu saí do consultório com a célebre frase: “tire leite e derivados da dieta”. Na época, eu amamentava exclusivamente! Foi dessa forma que eu entrei nesse universo APLV. A partir desse momento, comecei a buscar informações e profissionais que pudessem auxiliar no tratamento do meu filho – a dieta de restrição. Pouco consegui dessa ajuda e passei a procurar sozinha, de uma forma autodidata, por uma orientação mais concreta.

Como sou profissional de saúde, tive uma maior facilidade na compreensão de artigos científicos e na linguagem que circunda o assunto de alergia alimentar. Daqui para frente, na minha história, eu passei a estudar muito essa temática para que eu mesma pudesse me auxiliar no dia a dia: entender sobre os alimentos, como identificar quais contêm a proteína do leite de vaca ou não, como realizar a mudança na minha dieta alimentar de forma saudável (que não prejudicasse a mim, ao meu aleitamento e ao meu bebê). 

“Aos poucos, descobri que existe um mundo dentro da alergia alimentar – principalmente da APLV, um mundo de proteínas (de diversos alimentos)”.

O que aconteceu?

Para fazer o tratamento correto do meu filho – eu estudei muito e adquiri especialização na área! Demorei alguns meses para entender toda a complexidade que a alergia alimentar traz consigo, mas o tratamento do meu filho deu muito certo!

Testei diversas coisas, errei, tive furos na dieta, meu filho reagiu, acertei… Passei por um período de instabilidade antes de descobrir o que eu precisava fazer para estabilizá-lo até o momento em que a cura chegasse. 

E a cura chegou!

O João Artur tinha sintomas gastrointestinais e alguns sintomas respiratórios também, como, distensão abdominal, gases, muco, sangue nas fezes e o clássico chiado, em decorrência de algumas doenças respiratórias surgidas como resposta alérgica à proteína do leite de vaca. Além de uma certa dermatite, também. Porém, com um ano e dois meses, a partir de um TPO muito bem feito (bem orientado, de maneira gradativa, de forma segura), confirmamos que o João Artur já estava tolerante à proteína do leite de vaca.

Hoje ele reage a algumas outras proteínas alimentares – que nós descobrimos à medida em que fizemos a introdução alimentar – como à proteína da carne de porco e à tiramina de queijos maturados. 

“Contudo, as reações de hoje são infinitamente mais brandas do que as reações do passado (jatos de sangue)”.

Depois que eu tratei e estabilizei o meu filho, eu notei que muitas outras crianças, mães e famílias sofriam por conta da desinformação – justamente por não saber como fazer o tratamento correto de uma alergia alimentar. E, neste momento da minha vida, eu senti a necessidade de compartilhar meus conhecimentos com vocês, mães! 

Aos poucos, comecei a partilhar algumas informações sobre alergia alimentar no meu Instagram e comecei a receber uma grande quantidade de perguntas relacionadas ao assunto. Assim, a nossa comunidade de mães cresceu, junto das nossas trocas de informações, esclarecimentos e experiências. Quando eu notei o quão enriquecedor essa troca estava sendo, decidi mudar totalmente o foco da minha profissão. Comecei, então, a atender crianças com APLV e com outras alergias alimentares.

FPIES – Food ProteinInduced 

Enterocolitis Syndrome

Nome 

A sigla inglesa FPIES (“Food Protein-Induced Enterocolitis Syndrome”) significa, em português, Síndrome de Enterocolite Induzida por Proteína Alimentar. Enterocolite, por sua vez, significa inflamação do trato digestivo.

O que é

FPIES é um tipo de reação decorrente de uma alergia alimentar do tipo IgE Não Mediada (quando o sistema imunológico não produz a Imunoglobulina do tipo E no momento da reação alérgica).

Geralmente, crianças IgE Não Mediadas apresentam reações mais tardias (24 a 48 horas depois da ingestão, algumas apresentando sintomas até 7 dias depois), mas, no caso da reação FPIES, os sintomas aparecem de uma forma muito mais rápida: 1 a 4 horas depois da exposição. Sem dúvidas, a FPIES é a reação mais grave das IgE Não Mediadas. 

A reação FPIES é IgE Não Mediada, mas é praticamente imediata.

Em que Consiste

Essa reação consiste, basicamente, em uma grande inflamação na maior parte do intestino da criança.

Sintomas

Primeiramente, cólica intestinal e gases (reações similares às outras IgE Não Mediadas -tipicamente com reações mais tardias).

Contudo, na FPIES, há duas característica muito marcantes: 

• vômitos “intratáveis”;

• vômitos com grande frequência.

Geralmente, depois de uma hora (até quatro horas depois) do contato com a proteína alergênica, a criança começará a vomitar descontroladamente.

Características dos vômitos: 

• vômitos constantes;

• volume intenso;

A criança, consequentemente, perde um grande volume de água com esses vômitos “intratáveis”. Por isso, inclusive, a criança começa a ficar desidratada e pálida, o que pode levá-la a um estado de letargia (lentidão e sonolência),

fraqueza muscular e até mesmo a um estado de desmaio. As crianças que evoluem com esse quadro de vômitos à jato (grande perda de água e líquidos corporais) estão também sujeitas ao maior risco que a reação FPIES traz: um choque hipovolêmico.

Como a chance de desidratação é alta, a pressão sanguínea cai, o volume de sangue fica reduzido (o coração não consegue mais oxigenar bem todas as partes do corpo), pode haver lesão celular (morte de células – muitas vezes trata-se de um processo irreversível), o risco de choque hipovolêmico é alto.

Esse choque, por sua vez, pode, infelizmente, levar a criança a óbito.

O quadro de choque hipovolêmico se dá nessas condições: grande perda de líquido e sangue corporal, má oxigenação dos órgãos e tecidos, queda brusca na pressão arterial etc.

Observação: a reação mais grave das IgE Mediadas é o choque anafilático (uma reação alérgica grave que surge poucos segundos, ou minutos, após se estar em contato com uma substância a que se tem alergia), na qual os principais sintomas são irritação na pele, náuseas, vômitos, dificuldade respiratória e choque hemorrágico. A reação mais grave das IgE Não Mediadas, por sua vez, é o choque hipovolêmico.

Se quiser assistir a aula completa sobre esse tema, acesse meu canal no youtube!

Outros Sintomas 

Além dos sintomas citados, podem ocorrer sintomas gastrointestinais um pouco mais tardios – cerca de 5 a 10 horas depois do contato com a proteína do leite de vaca. Então, além dos vômitos, a criança pode desenvolver um quadro de diarreia de difícil controle, o que contribuirá para o quadro de

perda de líquido corporal (desidratação), contribuindo com o quadro de choque hipovolêmico. Essa diarreia pode vir acompanhada também de muco e/ou de sangue. Porém, esses sintomas são mais comuns em crianças que possuem a FPIES crônica. Essa diarreia mais prolongada pode levar a uma redução no ganho de peso ideal de uma criança.

Tipos de FPIES

Existem dois tipos de FPIES: a aguda e a crônica. Considerando uma criança com alergia IgE Não Mediada para a proteína de leite e que reage com FPIES:

• A FPIES aguda é muita característica, por exemplo, de um primeiríssimo contato de uma criança com uma mamadeira feita com uma fórmula íntegra do leite de vaca. Nesse tipo, a reação será bem marcada por vômitos e por traços de desfalecimento. 

• A FPIES crônica, por sua vez, é mais característica desses outros sintomas:

diarreia com sangue e dificuldade do ganho de peso. Geralmente a FPIES crônica é desenvolvida pela amamentação (no caso da APLV) ou quando a criança possui contato pouco frequente ou acidental com uma proteína de algum outro alimento,

Sintomas Raros

Podem acontecer, concomitantemente, alguns sintomas cutâneos e respiratórios, mas esse quadro não é frequente.

Alimentos E FPIES  

Os alimentos que mais causam a FPIES, no Brasil, são o leite e a soja. Além disso, para FPIES, não é muito frequente que uma criança seja múltipla alérgica, mas pode acontecer. Nesses casos (de múltipla alergia com reação FPIES), se uma criança reagir com FPIES à proteína do leite, por exemplo, há uma alta chance dela também reagir, da mesma forma, à proteína da soja – cerca de 50%.

Alguns estudos já mostraram que há alimentos mais comumente relacionados à FPIES: arroz; peixe; frango; aveia; batata; e alguns outros em menores frequências. Esses alimentos são os mais relatados nas reações FPIES. Lembrando que todo e qualquer alimento que contenha proteína pode causar uma alergia alimentar.

Uma informação valiosa, que vale a pena ser reforçada:

• como a FPIES é uma reação do tipo IgE Não Mediada, não adianta realizar  exames de pele (PrickTeste), exames de sangue (para IgE específicos) ou ImmunoCAP, porque para o caso da FPIES, os exames darão negativo. Nossos corpos produzem outras células inflamatórias, como citocinas e linfócitos T, o que é diferente da Imunoglobulina E (célula detectada nesses exames).

Sugestão

Há um grupo no Facebook chamado “FPIES Brasil”, que foi criado por um pai e uma mãe de uma criança FPIES e que conta com inúmeras informações e possibilidades de conexões com mais pais que tenham filhos que reagem o sintoma FPIES.

Nesse grupo você pode participar de conversas e grupos de discussão, por exemplo. Trata-se, portanto, de uma iniciativa muito interessante e que pode te ajudar.

No grupo, há uma cartilha (feita em parceria com uma organização FPIES americana) que diz que muitas vezes a criança que possue FPIES, apesar de ser Não Mediada e não positivar para FPIES nos exames, pode também ser IgE Mediada para algum outro alimento (até para o mesmo alimento, inclusive). Nesse documento, portanto, há a recomendação da dosagem de IgE.

Mas lembre-se: o sintoma FPIES não produz a Imunoglobulina E. 

Como fazer o Diagnóstico

O diagnóstico da FPIES é médico – assim como qualquer outro diagnóstico de alergia alimentar! Esse é o primeiro ponto que nós precisamos frisar. Os médicos enfrentam um grande desafio, porque o quadro de “vômitos intratáveis” e de diarreias de difícil controle assemelha-se muito com os quadros de diversas outras doenças muito comuns da infância.

Viroses, intoxicação alimentar, doença do refluxo gastroesofágico, outras doenças inflamatórias intestinais e até algumas síndromes metabólicas

podem ser facilmente confundidas com a FPIES. Existe, então, o risco da criança começar a desenvolver um quadro de FPIES (com muitos vômitos, por exemplo), ser atendida em um pronto atendimento de um hospital e ter um diagnóstico equivocado.

Se você suspeitar que seu filho(a), alérgico alimentar ou não, mesmo se o diagnóstico ainda não estiver definido, estiver com um quadro de FPIES, a orientação é que você leve ele/ela a um Pronto Atendimento e relate justamente isso.

Muitas vezes o diagnóstico correto pode demorar para ser fechado, porque os médicos suspeitarão, inicialmente, de outras causas (bem mais frequentes nas crianças).

Esse diagnóstico equivocado pode, por exemplo, atrasar que seu filho tenha um acesso endovenoso, que fará uma reposição de líquidos mais rapidamente – o que é essencial em um quadro de FPIES, devido a possibilidade do quadro de choque hipovolêmico.

Podemos concluir, sobre o diagnóstico, que: 

• é difícil de ser feito;

• será feito, majoritariamente, a partir da observação dos sintomas, ou seja, o diagnóstico será clínico;

• é raro que o diagnóstico seja feito no primeiro contato com a proteína alergênica (leite de vaca, soja, arroz, aveia, peixe etc);

• é facilmente confundido com outras causas.

Como o diagnóstico, geralmente, é feito na 2ª, 3ª, 4ª vez que a criança tem contato com a proteína e desenvolve o mesmo quadro, nós, profissionais de saúde, entendemos que é por meio dessa repetição que o diagnóstico é direcionado para a causa correta.

Por que Por Meio da Repetição?

 Imaginem os quadros abaixo:

• Uma virose, por exemplo, seria curada entre 7 e 10 dias (autolimitada). 

• Uma intoxicação alimentar, por exemplo, não aconteceria com uma determinada frequência, já que é esporádica.

Quando temos a repetição do quadro de FPIES alguns desses quadros passam a ser excluídos pelos médicos e, só assim, o diagnóstico começa a ser direcionado para a direção correta – alergia alimentar IgE Não Mediada com reação FPIES. 

O que é Importante Fazer?

É importante que você, se desconfiar desse quadro de FPIES, reporte ao médico. FPIES é uma reação pouco discutida e, portanto, pouco conhecida (inclusive por profissionais da saúde). O diagnóstico pode ser complexo, mas você pode fazer sua parte para contribuir, se você estiver nessa situação.

Fechamento do Diagnóstico

Assim como em qualquer alergia alimentar (exceto as IgE Mediadas, nas quais fica extremamente claro o diagnóstico – quando a criança consumiu o alimento e teve uma reação alérgica quase que instantânea), o diagnóstico é fechado por meio do TPO (Teste de Provocação Oral).

Mas, mais uma vez, lembrem-se: a orientação da realização do TPO sempre virá de um médico ou de um profissional de sáude responsável pelo quadro clínico do (a) seu (sua) filho (a).

TPO no Caso de FPIES

Se houver a suspeita de alergia alimentar à alguma proteína, dois momentos deverão acontecer para que o TPO seja feito:

• No primeiro momento, será feita uma dieta de restrição total daquela

proteína e dos alimentos que a contenham – ou por parte da mãe que amamenta a criança ou por parte da própria criança, se a introdução alimentar já tiver sido feita.

• No segundo momento, será feita uma reintrodução daquela proteína em três etapas – de uma maneira gradual e lenta -, justamente provocando, oralmente, uma possível reação ou não.

No Caso da FPIES

Assim como na maioria dos casos de alergias IgE Mediadas, NUNCA faça o TPO em casa. NUNCA! O risco de choque hipovolêmico é altíssimo. O TPO sempre deve ser orientado e acompanhado por médico e, nesses casos, ele ainda precisa ser feito em um ambiente altamente equipado (preparado). Inclusive, a orientação do Consenso de Alergia Alimentar do Brasil é que o TPO, nesses casos, seja feito com um acesso de soro já aplicado anteriormente na criança (para que, ao sinal de qualquer sintoma, a criança já seja submetida a uma hidratação ágil e eficiente).

TPO de FPIES nunca deve ser feito em casa! Ele deve ser realizado sempre com acompanhamento médico em clínica/ ambulatório/ hospital, ou seja, em algum lugar que possua um aparato de controle RÁPIDO para o quadro de desidratação.

Questionamento

Alguns autores e profissionais questionam a necessidade do TPO para o fechamento de diagnóstico de FPIES, justamente pelo altíssimo risco que ele representa para uma criança. 

Quando o quadro está muito caracterizado e, pela história clínica, um médico consegue fechar o diagnóstico da FPIES, o TPO realmente pode ser dispensado pelo profissional. Nesses casos, a proteína é excluída totalmente da dieta da criança e ela não reage mais com os sintomas daquela alergia alimentar.

Tratamento

No que consiste o tratamento (exclusão da alergia)?

• Se a criança está apresentando esses sintomas ainda em aleitamento, da mesma forma que acontece em outras alergias, a mãe deverá fazer a dieta de restrição da proteína (seja ela do leite, da soja, do trigo, da aveia etc); 

• Se a criança está apresentando esses sintomas devido à ingestão de fórmulas, provavelmente o médico nutricionista fará uma avaliação e considerará uma introdução de fórmula de aminoácidos. É válido ressaltar que isso geralmente ocorre, porque a grande maioria (50%) das crianças que reagem FPIES não tolera a fórmula extensamente hidrolisada da proteína. 

• Se a criança já estiver em processo de introdução alimentar, existem duas possibilidades:

– Introdução Alimentar + Aleitamento = a criança e a mãe fazem a dieta de restrição.

– Introdução Alimentar + Fórmulas = a criança faz a dieta de restrição e a fórmula deve ser trocada.

Importante lembrar que a fórmula de soja não é indicada, porque a chance de uma criança APLV que reage FPIES também reagir com FPIES à proteína da soja é muito alta (cerca de 50%).

Estatísticas

Confira algumas ideias de estatística referentes à reação FPIES.

No Brasil, nós não temos estudos que fechem a prevalência da FPIES em

crianças. Existem alguns estudos da Austrália, porém. Lá, a prevalência é de 15 crianças que reagem FPIES a cada 100 mil crianças nascidas por ano.

Já para o Brasil, o que eu encontrei foi um artigo afirmando que, até hoje, diagnosticadas (provavelmente em um banco de saúde do SUS), havia apenas 8 crianças com FPIES.

Nós sabemos que esse número não condiz com a realidade, porque no próprio grupo de FaceBook aqui comentado há muito mais do que 8 crianças que reagem FPIES. 

Portanto, o que nós temos no Brasil não é um diagnóstico, mas sim um subdiagnóstico. O que pode explicar esse número irreal pode ser: ou nos nossos bancos de dados constam as crianças que reagem FPIES apenas como portadoras de alergia alimentar (e essa diferença não é contabilizada); ou muitas crianças FPIES estão tendo outros diagnósticos que não esse. 

Tendo em vista essas informações, é de extrema importância que vocês, pais de crianças FPIES, reportem ao SUS esses diagnósticos. Essas crianças precisam entrar para as estatísticas de forma mais fidedigna possível. A partir desse aperfeiçoamento da qualidade dos dados do banco de dados do SUS, esse órgão é capaz de divulgar melhor os casos e, por conseguinte, conscientizar de uma forma mais eficaz, tanto os profissionais de saúde quanto a própria população

Essa prática iria, sobretudo, conscientizar os pais de crianças alérgicas sobre essa possibilidade de quadro de FPIES. Ao fazer isso, a mortalidade por FPIES certamente diminuirá e os diagnósticos serão cada vez mais rápidos e certeiros, o que seria benéfico para todos nós, com certeza!

Conclusão

Na minha experiência clínica, eu converso com algumas mães que possuem filhos com sintomas FPIES e sim, eu sei que é assustador, assim como é assustador o quadro de choque anafilático (IgE Mediado). 

Essas mães sempre precisam de alguns cuidados como, por exemplo, nunca viajar para locais que não possuem um hospital de fácil acesso. Além do cuidado com a alimentação, obviamente, que precisa ser redobrado nesses casos, já que todo início de reação FPIES leva a um potencial risco. 

O meu objetivo com essa aula é divulgar informações sobre a FPIES e alertar a todos! Espero que você, ao ler este material, caso tenha identificado os sintomas da FPIES no seu filho ou em algum conhecido, possa contribuir para o correto diagnóstico dessa criança o mais rápido possível.

Lembre-se de que é fundamental que o diagnóstico de FPIES (das crianças que reagem a esse sintoma) seja fechado – porque, apenas dessa forma, ao sinal de qualquer reação, você pode agilizar o processo de tratamento do seu filho(a) da forma mais rápida e segura possível. Além disso, quando o diagnóstico é fechado, uma criança FPIES não terá sua reação ligada a um diagnóstico equivocado, o que é muito importante para a sua segurança e para sua vida.

DÚVIDAS

Entenda um pouco mais sobre o assunto, a partir da experiência de outras mamães como você!

“Uso probióticos para os sintomas gastrointestinais do meu bebê. Qual é o benefício desses probióticos quando há sangue nas fezes?”

Sempre reforço que eu não oriento a permanência da ingestão de probióticos, enquanto houver sangue nas fezes. O que está acontecendo é uma ferida no intestino! A bactéria do probiótico, se entrar na corrente sanguínea pelo intestino, pode não ser tão benéfica assim nesses casos. Dizer

isso significa que o risco de infecção generalizada (sepsemia) é aumentado com essa prática e, quando há sangue nas fezes, não é o momento de aumentarmos o risco de nada. 

Nos bebês que acompanho eu faço essa orientação. Se houver um furo não intencional na dieta e houve um sangramento, suspenda o uso de probióticos até o sangramento parar por total e nós podermos afirmar com certeza que o intestino da criança não está mais perfurado. 

“Meu filho é APLV. Ele fez um exame e a IgE diminuiu, mas ainda está moderada. Como meu filho ainda mama no seio, posso começar a comer derivados para testar ou espero mais?”

O profissional de saúde que faz o seu acompanhamento é a pessoa mais adequada para responder a essa pergunta (principalmente sobre a questão de quando começar o TPO). Esses questionamentos dependem da história clínica e as respostas variam muito de caso a caso. Além disso, o TPO precisa ser liberado e acompanhado pelo médico, principalmente em crianças

IgE Mediadas (especialmente nas que reagem com anafilaxia). É o médico quem pode responder adequadamente a essas questões.

“É possível que meu filho reaja com FPIES para um alimento e reaja como IgE Mediado para outro tipo de alimento?”

Sim! Isso é possível. Inclusive, pode acontecer de uma criança ser IgE Mediada para um alimento e IgE Não Mediada para outro.

“Com quanto tempo aproximado de uso exclusivo de fórmula temos melhora do quadro de dor? Meu filho utiliza exclusivamente uma fórmula extensamente hidrolisada há cerca de 40 dias, mas ainda tem reação de dor.”

Já era para ter melhorado o quadro de dor do seu filho. Se os sintomas aos quais você se refere forem, por exemplo, respiratórios ou de pele, é esperada uma boa melhora dentro de um prazo de trinta dias. Já os sintomas gastrointestinais, que geralmente demoram mais para melhorarem (o intestino demora mais tempo para desinflamar e cicatrizar), o prazo é cerca de trinta (30) dias. Se você trocou a ingestão da fórmula íntegra por uma fórmula extensamente hidrolisada há quarenta (40) dias e o quadro de dor do seu filho (contorcimentos, gases, irritação etc) não melhorou, isso é

um grande indício de que ele não tolera esse tipo de fórmula.  Reporte ao médico responsável e atente, nessa conversa, para apossibilidade da introdução de um novo tipo de fórmula. 

“Minha filha tem 3 anos e é APLV. Agora ela está com soluço 3 vezes ao dia e tem muco nas fezes. Isso é alergia a outro alimento?”

O soluço é muito inespecífico e não nos diz muito sobre alergia alimentar. Quanto ao muco, precisamos sempre lembrar: “MUCO ISOLADO NAS FEZES NÃO É REAÇÃO“. Em relação a essa frase, vamos entender melhor o português. Por “muco isolado” entendemos apenas o muco como sintoma, ou seja, não há distensão, gases, incômodo, irritabilidade, sem sangue, sem sintomas respiratórios, sem sintomas de pele – ou seja, apenas o muco.

A questão do muco nas fezes pode ser explicada por diversos fatores que não o de alergia alimentar (inclusive para crianças não alérgicas). Então, como esses dois sintomas são muito inespecíficos, o que eu sugiro que você faça é reportar essas reações ao médico responsável, uma vez que ele poderá analisar esse fato junto de outros fatores e, dessa forma, orientar melhor. 

“Qual reação pode acontecer quando o alimento é a soja?”

Muitas! Todos os alimentos podem gerar reações do tipo IgE Mediadas, IgE Não Mediadas e Mistas, e essa lógica não é diferente para a soja. Destacamos, então, como reações: de pele (urticárias, edemas, dermatite etc); sintomas gastrointestinais; sintomas respiratórios (asma, chiado, doenças respiratórias de repetição), FPIES, dentre várias outras. 

Estudos indicam que crianças APLV têm uma chance mais alta de também reagir à proteína da soja (cerca de 50%). No caso de uma criança que reage a mais de um alimento, a denominação que ela recebe é múltipla alérgica. Na minha prática clínica, eu percebo que esse índice sobe quando o sintoma apresentado da ingestão da soja é gastrointestinal.

“Minha filha é APLV e ela já está há um mês sem fazer fezes com sangue. Eu observei que quando eu como bolo ela não tem reação. O que isso significa?”

De acordo com o seu relato, você amamenta e está comendo alimentos assados que contêm a proteína do leite de vaca, aos quais sua filha não apresenta reações. Isso significa dizer que sua filha já está menos sensível a proteína e tolera melhor essa determinada quantia da proteína. Isso é um bom sinal! Você está na caminhada da tolerância plena.

“Existe relação entre FPIES e anemia?”

Sim! Principalmente em relação à FPIES crônica, que é aquela em que a criança apresentará diarreias (muitas vezes com muco e sangue nas fezes). Como a inflamação intestinal na FPIES crônica é muito grande, são comprometidas, tanto a capacidade do intestino de produção de enzimas que digerem os alimentos quanto a capacidade de absorção de nutrientes. Dessa

maneira, além do organismo perder sangue por causa das feridas intestinais, ele também não digere bem os alimentos, o que compromete a absorção de nutrientes essenciais, como o ferro e a vitamina B12.

A FPIES crônica, além disso, pode causar diversas alterações em exames de sangue.

“Meu filho é IgE Mediado e teve duas vezes FPIES (quando tomou a vacina de 2 meses – rotavírus – e quando tomou leite de cabra). Os sintomas vieram 1hr após. Devo apenas retirar o leite ou devo fazer algo mais?”

Em relação ao leite de mamíferos, há reatividade cruzada, ou seja, as proteínas são muito similares (a chance de um bebê que reage à proteína do leite de vaca reagir à proteína do leite de cabra é alta – acima de 92%).

Então, o único leite de mamífero que você deve dar para o seu bebê é o humano (fazendo a dieta de restrição, é claro). No caso da FPIES de APLV, restringir leite e soja são essenciais! 

Contudo, não faça restrições desnecessárias, ou seja, sempre procure aconselhamento médico. Não gere riscos nutricionais desnecessários.

Em relação ao TPO, você também deve procurar o médico, para que o TPO seja feito em ambiente clínico hospitalar preparado que possua acompanhamento médico profissional.

“Viajarei internacionalmente por uma semana. Estou pensando em levar a comida do meu filho toda congelada. Será que eu consigo?”

O maior problema que você irá encontrar é com a fiscalização e com o sistema de vigilância agropecuária internacional (VIGIAGRO). Existem restrições e legislações específicas sobre quais alimentos (e quantidades) que você pode levar para um outro país, como também há legislações nesse sentido para a entrada de alimentos no Brasil, ou seja, tanto na entrada do país de destino quanto no retorno ao Brasil pode haver complicações nesse sentido. Você pode procurar o órgão público responsável por essa fiscalização, explicar sua situação e, se for possível (do ponto de vista legal), pedir uma autorização com antecedência.

“Estava fazendo TPO para trigo. Fiz, por seis dias, e não houve nenhuma reação. Parei o TPO por um dia e, quando voltei no dia seguinte, meu filho apresentou vômitos à jato. Isso pode ser reação, mesmo depois desse tempo todo?”

Sim, isso pode ser reação. IgE Não Mediado, uma via de ativação do sistema imunológico, pode demorar mais para reagir a alguma alergia! Como essas crianças (IgE Não Mediadas) têm reações mais tardias, é preciso ter bastante cautela e atenção, porque o sistema imunológico de cada criança é diferente e sim, uma criança IgE Não Mediada pode apresentar reações mais tardias.

“Meu filho fez tratamento por seis meses com leite de soja, mas só trocamos o leite e os derivados e correu tudo bem. A médica deu alta e depois disso meu filho passou a ter broncoespamos quase todo mês.”

A primeira coisa que eu digo para você fazer é marcar um retorno na médica para avaliar se esse quadro é em decorrência da alergia. Broncoespamos podem ser decorrentes de alergia, mas podem também não ser. Talvez, a médica pode indicar que um novo TPO deva ser feito, porque, por mais que seja difícil que as reações alérgicas tenham voltado depois de tanto tempo, não é impossível.

“Minha filha foi diagnosticada com FPIES e os sintomas são: estufamento e dor abdominal; hipotermia; sudorese fria; palidez; letargia; perda de peso; diarreia com muco e sangue vivo. Ela fará 8 anos esse mês.”

Obrigada pelo testemunho! É bom compartilhar esses relatos para que as pessoas entendam que a FPIES não é exclusiva da infância – ela pode acontecer até mesmo com adultos.

“Probióticos ajudam na FPIES?”

Sim, eles ajudam. Como o intestino é responsável por produzir enzimas para digerir bem os alimentos para absorver os nutrientes, os probióticos ajudam bem nessa parte. Probióticos podem ajudar na ativação de certas enzimas, na digestão de alimentos, na conversão de vitaminas na forma ativa etc. 

Contudo, não podemos esquecer do cuidado com sangramentos! Se houver sangramento, suspenda o probiótico (para não aumentar o risco de infecção generalizada) até que ele cesse totalmente.