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Aprenda a identificar se o seu filho(a) #APLV tem alergia IGE mediada, não mediada ou mista

Quem sou eu?

Meu nome é Juliana Maia. Sou nutricionista clínica há 13 anos. Tenho pós graduação em nutrição clínica e sou especialista em alergia alimentar – em APLV (alergia à proteína do leite de vaca).

Tenho um filho, João Artur, hoje com três anos de idade, que rapidamente, após seu nascimento, foi diagnosticado com APLV. Naquela época eu amamentava e não foi nem um pouco fácil receber esse diagnóstico.

Minha Trajetória

Sim, eu já era nutricionista. Não, eu não sabia o que fazer.

Eu não trabalhava com o público infantil e, além disso, a parte teórica que eu tive na faculdade pouco me ensinou sobre o que eu precisei aplicar na prática com o meu filho. O tratamento, que é a dieta de restrição da proteína alimentar, me cobrou muito mais do que eu sabia. Eu precisei, portanto,

adquirir muito mais informações e conhecimento sobre o mundo de alergia alimentar. Quem me dera fosse apenas “retire leite e derivados da dieta” – conselho que eu recebi e que eu sei que muitas mães ainda recebem.

Não foi fácil! Por mais que meu conhecimento de nutrição tenha me auxiliado em parte, principalmente na compreensão de artigos científicos e na linguagem da alergia alimentar – mais voltada para profissionais da saúde -, eu fiquei com medo, triste e insegura. Eu já me arrisquei, cometi erros no

tratamento do meu filho, ele reagiu, cometi acertos… Até que meu filho atingiu a cura: a tão sonhada tolerância. Eu aprendi muito com esse novo universo que passamos a viver e, aos poucos, passei a compartilhar meu conhecimento nas minhas redes sociais.

Chegou a um ponto da minha vida em que eu decidi mudar todo o foco da minha profissão para alergia alimentar. Eu resolvi isso, principalmente, porque notei como era enriquecedora a ajuda que eu poderia oferecer a outras famílias e como eu ficava feliz ao poder ajudar dessa maneira – ao ver a melhora de crianças na prática! Essa contribuição se tornou minha missão de vida.

Na Aula de Hoje 

• O que é alergia alimentar?

• Como diferentes sistemas imunológicos funcionam; 

• Alergia IgE Mediada;

• Alergia IgE Mista;

• Alergia IgE Não Mediada; 

• Sintomas clássicos de todas as alergias;

• Perguntas e respostas

Objetivo

O objetivo da aula de hoje é apresentar o conteúdo ao lado, para que vocês, mães, consigam identificar com mais clareza qual tipo de reação seu filho faz.

Essa aula será útil tanto para mães que já tiveram o diagnóstico fechado quanto para mães que estão em dúvida se as reações que seu filho apresenta podem ser decorrentes de alergia alimentar.

Para que tudo isso seja possível, passaremos pelos três grandes tipos de alergia alimentar, compreendendo quais são as nomenclaturas e quais são seus diferentes mecanismos.

Minha Ideia

Como profissional de saúde, darei uma pincelada sobre os tópicos acima. A minha ideia é que vocês, mamães, tenham um pouco mais de clareza sobre esses pontos. Eu sei que eles podem causar bastante confusão e, justamente porque há muita informação confusa sobre essas questões na internet, fiz essa aula para facilitar e desmistificar esses tópicos.

Lembre-se

O diagnóstico da alergia alimentar, seja ela qual for, é médico! 

Esse diagnóstico só pode ser feito por um médico, de forma presencial, com o estudo da história clínica do seu filho. Nunca dispense a consulta médica, apenas com base no que você aprender sozinha. Consulte sempre um profissional, que avaliará seu caso de forma individual! 

Além disso, é muito importante que vocês se lembrem de que tudo o que eu disser não será nunca substituído pelo diagnóstico de um médico.

Alergia Alimentar

Faremos uma alegoria para compreender melhor o que seria alergia alimentar:

O corpo do seu filho possui um exército dentro dele. As proteínas alergênicas formam um exército inimigo externo!

Todas as vezes em que há uma detecção de algum soldado do exército inimigo dentro do corpo do seu filho, esse exército responderá com ataques! Esses ataques podem acontecer de diversas formas e o principal objetivo deles é expulsar a proteína alergênica do corpo – no entendimento do exército do nosso corpo, aquela proteína nos faz mal.

É importante que você entenda que o exército de todos nós, humanos, possui vários componentes e é semelhante às Forças Armadas da vida real

– existem diferentes figuras (em quantidades desiguais), que possuem atribuições distintas. No nosso sistema imunológico, a lógica é similar – existem diversas células (também com quantidades e funções diferentes) que compõem a nossa defesa interna.

Uma célula de defesa (componente do nosso exército) muito importante quando falamos de alergia alimentar, que é um anticorpo, é a Imunoglobulina E (comumente chamada de IgE). Quando o médico pede um exame de sangue do seu filho, para checar, por exemplo, se a IgE aumentou, é a célula de defesa que o médico está se referindo. 

Quando o nosso exército (nosso sistema imunológico) entende que uma proteína alimentar é um agressor do exército inimigo, ele produz esse tipo de soldado – a Imunoglobulina E. Essas células se ligam à Batalhões de Infantaria maiores (outras células do sistema), que ficam a postos e a mando do sistema imunológico. Quando o indivíduo, dessa forma, ingere novamente aquela proteína, o sistema imunológico dispara respostas.

Essa resposta nada mais nada menos é do que o tipo de reação! É importante ressaltar, ainda, que essa resposta dependerá muito de duas coisas: do grau de sensibilidade à proteína do indivíduo e de quais células de defesa (quais soldados) o sistema de defesa vai ativar como resposta à invasão (ingestão).

IGE Mediado

Se o sistema de defesa imunológica do seu filho (ou filha) ativa um tipo de resposta imunológica que secrete o anticorpo Imunoglobulina E (IgE), ele tende a ter respostas alérgicas mais imediatas. Então, seu filho é IgE Mediado, ou seja, há a produção desse anticorpo.

IgE MEADIADOS

Como parte da gama de reações IgE Mediadas, há a liberação de substâncias vasodilatadoras (substâncias que provocam a dilatação dos vasos), devido ao tipo de ativação das células imunológicas. 

As respostas corporais que refletem essa liberação de substância são:

• Edemas (inchaço) na boca, no olho, no corpo etc;

• Urticárias (pintinhas);

• Vômitos e diarreias quase que instantâneos à ingestão da proteína;

• Edema de língua/de garganta (resposta mais grave).

Essas respostas aparecem até, no máximo, duas horas depois da ingestão da proteína alergênica. Justamente por esse fato, de apresentar respostas muito rápidas e claras, o médico/profissional responsável consegue identificar corretamente a causa com mais agilidade (facilitando, inclusive, o diagnóstico).

Duas outras razões pelas quais o diagnóstico da alergia alimentar é identificado mais facilmente nesse tipo de mecanismo imunológico são: 

• o anticorpo IgE é detectado no exame de sangue (das IgE’s específicas) que o médico pedirá;

• o anticorpo IgE é detectado no exame de PrickTeste que o alergista fará. 

Reações

Entendemos, então, que nesse tipo de criança IgE Mediada, mesmo a ingestão de pequenas quantias da proteína (inclusive com inalação de pequenas frações da proteína suspensa no ar), desencadeia reações alérgicas. Essas reações – que podem ser bem fortes – ainda podem acontecer de forma isolada (apenas edemas, apenas urticárias etc), mas também podem acontecer de forma sistêmica (mais de uma reação ocorrendo ao mesmo tempo, acometendo vários sistemas). 

Por exemplo, uma criança IgE Mediada pode reagir com edemas, urticárias, broncoespamos, queda de pressão, tontura, confusão mental, desmaios etc.

Nesses casos, os sistemas acometidos foram o tegumentar, cardiovascular, respiratório, nervoso. 

Uma reação anafilática é um bom exemplo de uma reação sistêmica (ela pode, inclusive, afetar o sistema gastrointestinal, além dos sistemas já mencionados). Atenção, um quadro de reação anafilática pode evoluir para um quadro de choque anafilático, no qual há a mais grave reação de hipersensibilidade (que pode levar à morte). Sim, essa reação é assustadora! Eu mesma já tive uma reação anafilática, porém em decorrência do uso de anos de um medicamento (e não do consumo de um alimento alérgeno).

EXEMPLO PESSOAL

Um copo debaixo de uma torneira que goteja, uma hora terá sua água derramada. A mesma lógica se aplica a algumas alergias e já se aplicou a

mim: eu fazia uso de um medicamento há anos e nunca tive reação qualquer… Até que um dia eu tive um quadro de reação anafilática e precisei correr para o hospital. Eu senti a garganta fechando, tive muita falta de ar, fiquei tonta, inchei muito, precisei tirar os acessórios do corpo (anéis, aliança, brincos), minha voz enfraqueceu, senti uma cãibra forte no corpo inteiro, tive dor abdominal e ânsia de vômito. Se seu filho/filha apresentar um quadro assim, corra para o hospital e informe que seu filho é alérgico, para que o tratamento emergencial (que é a forma como esse quadro deve ser encarado) ocorra da maneira a minimizar o máximo possíveis danos colaterais. Por isso, tome a frente nesses casos.

Reações Mistas

As reações mistas, naturalmente, causam muitas dúvidas nas pessoas. Eu mesma recebo diversas perguntas do tipo: “meu filho teve a reação X… Isso seria uma reação mista?”, “do que uma reação mista depende?”…

Uma reação mista é aquela em que o sistema de defesa imunológica do seu filho (ou filha) ativará uma resposta imunológica que secretará o anticorpo Imunoglobulina E (IgE), mas que também secretará outras células imunológicas.

FIQUE ATENTA!

Como parte do quadro de reações mistas, existem alguns traços clássicos como: 

• Dermatite atópica (sistema tegumentar);

• Asma (sistema respiratório);

• Esofagite, gastrite, gastroenterite eosinofílica (na qual há a presença de uma célula de defesa específica chamada “eosinófilo”).

A dermatite atópica, diferentemente da urticária e dos angioedemas (sintomas de pele da IgE Mediada), deixará a pele com um aspecto grosseiro (similar a uma lixa), uma vez que se trata de um processo inflamatório. A pele ficará com um aspecto ressacado e avermelhado, além de possivelmente causar coceira na região. 

Essa dermatite pode ser mais aguda (o que indica, na maioria das vezes, a presença de IgE’s) ou pode ser crônica, acontecendo até algumas horas depois do contato.

Se quiser assistir a aula completa sobre esse tema, acesse meu canal no youtube!

É importante lembrar que a alergia alimentar é um dos fatores que podem desencadear a dermatite atópica! Essa doença, isoladamente, possui múltiplas causas, e a alergia alimentar é uma delas. Contudo, se você desconfia que seu filho possa estar com essa reação devido à alergia alimentar (o que ocorre em cerca de 20% dos casos de dermatite atópica), procure um profissional.

A asma (sintoma respiratório) também pode ser decorrente de uma reação mista (lembrando também que nem todo quadro de asma advém de uma alergia alimentar). Novamente, para um diagnóstico correto é preciso dirigir-se até um alergista. 

Sobre as esofagites eosinofílicas, gastrites e gastroenterites eosinofílicas (sintomas de sistemas gastrointestinais – nos três há a presença do eosinófilo), temos que:

Na esofagite eosinofílica, os sintomas são muito parecidos com os da doença do refluxo. Então, a criança pode apresentar dificuldade para engolir, há a sensação de que o leite fica parado no estômago, há recusa de alimentos, dor e até mesmo um baixo ganho de peso e de estatura.

Mais uma vez, o importante a ser feito é recorrer ao alergista, para que esse

diagnóstico diferencial seja feito. Muitas vezes, justamente para o fechamento desse diagnóstico, há a necessidade da realização de uma endoscopia (uma biópsia do local), para identificar quais são os tipos de células do sistema de defesa que estão presentes (para fechar o diagnóstico desse sintoma). 

O tratamento consiste, na maior parte dos casos, na exclusão da proteína alimentar e na introdução de uma nova dieta alimentar. Entretanto, em alguns casos, em menores proporções, há a necessidade do uso de certos medicamentos. Tendo em vista essa informação, a consulta a um alergista é ainda mais necessária. 

Na gastrite eosinofílica, além da dificuldade de deglutição e da sensação de que o alimento está parado, outro sintoma que pode ocorrer, mas que é mais raro, é o vômito com sangue.

IgE Não Mediado  

Se o sistema de defesa imunológica do seu filho (ou filha) ativa um tipo de resposta imunológica que secrete outros tipos de células (soldados), que não o anticorpo Imunoglobulina E (IgE), a resposta alérgica é do tipo IgE Não Mediado. 

Então, para essa gama de reações IgE Não Mediadas, não adianta fazer nem o exame de sangue nem o PrickTeste, porque nenhum deles acusará a presença da IgE (que é o que esses testes detectam). 

Para as reações mistas, entretanto, o alergista pode pedir um exame de sangue ou a realização do PrickTeste, porque, como foi dito, as reações mistas são aquelas em que há uma resposta imunológica de células IgE e de outros tipos. Esses testes, nesses casos, podem auxiliar o diagnóstico e podem, inclusive, ajudar a identificar qual é o alimento que está provocando exatamente a alergia. 

Para os IgE Não Mediados, esses testes não serão conclusivos e não devem nem ser solicitados.

CÉLULAS

Como o corpo, no caso de IgE Não Mediado, responde com outros tipos de

célula, entendemos que a reação alérgica demorará mais tempo para ocorrer, na maior parte dos casos. Dizer isso significa dizer que a resposta é mais lenta. Se nas IgE Mediadas a resposta com as Imunoglobulinas é muito rápida (no máximo duas horas depois), nesse outro mecanismo imunológico (de outros células que não as IgE’s) a resposta demora mais. Os sintomas podem aparecer 24, 36 horas depois ou até mesmo depois de 7 a 10 dias (casos mais

raros) do contato com a proteína alérgena.

DIAGNÓSTICO

Realmente o diagnóstico fica dificultado! É preciso ter bastante conhecimento sobre alergia alimentar e uma história clínica bem contada (nos detalhes) para que o problema seja diagnosticado da forma correta.

A anamnese precisa ser detalhada para que o médico possa juntar as informações do modo mais fidedigno possível e possa concluir, dessa maneira, se os sintomas que a criança apresenta são decorrentes da alergia alimentar IgE Não Mediada.

Sintomas Clássicos

Existem alguns sintomas clássicos de reações IgE Não Mediadas. Esses sintomas, por mais que típicos desse tipo de reação alérgica, também podem ser fisiológicos, ou seja, normais (para um bebê recém nascido, por exemplo) – e também podem ser confundidos facilmente com outras causas, como quadro de virose ou de infecção bacteriana. Essas duas possibilidades dificultam ainda mais o diagnóstico correto da alergia alimentar.

Adiante, abordaremos os sintomas mais clássicos de reações IgE Não Mediadas, justamente na tentativa de esclarecer esse assunto.

DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO

O refluxo, propriamente dito, que é a volta do alimento ingerido e do suco gástrico, é fisiológico. Então, entendemos que o refluxo, para os bebês, é normal – e não é considerado doença (não acarreta em nenhum outro prejuízo)! Geralmente, essa situação, que se resolve naturalmente e sem intervenção (até um ano de idade), se dá em todos os bebês, justamente pela imaturidade do sistema gastrointestinal.

Contudo, quando esse refluxo sai do normal e se torna a doença do refluxo?

•  Quando o bebê tem vômitos à jato ou regurgitamentos, repetidamente;

•  Quando o bebê demonstra irritabilidade;

•  Quando o bebê não está ganhando o peso adequado;

•  Quando o bebê se recusa a alimentar (joga o corpo para trás no momento da ingestão de algum alimento). 

Esses sintomas são indícios da possibilidade da doença do refluxo gastroesofágico. Procure um profissional imediatamente para uma análise mais detalhada desse quadro.

Observações importantes sobre o tratamento dessa doença:

Suponhamos que:

1- O diagnóstico de um bebê já está fechado e ele apresenta essa doença;

2- Essa mãe inicia o meu programa online, que contém todo o passo a passo

para a exclusão da proteína (do leite de vaca, por exemplo) e a implementação da dieta alimentar da maneira correta.

Na minha experiência, o que eu já percebi foi que, depois desses passos, há uma grande melhora do refluxo. Na maioria dos casos, inclusive, o médico chega a diminuir a quantidade de medicamento que, sim, muitas vezes é necessário (para que a criança para de sentir dor e consiga comer). Em outros casos, o refluxo acaba!

Então, observamos três casos: 1 – o caso em que a alergia e a dieta alimentar são totalmente controlados e que, por causa disso, o refluxo cessa por inteiro; 2 – o caso em que a alergia e a dieta alimentar são totalmente controlados e que, por causa disso, o quadro de refluxo é suavizado (diminuição de medicamento); 3 – o caso em que independentemente do controle/da existência da alergia, o quadro da doença do refluxo continua e há necessidade de medicação por mais tempo. 

O refluxo não acaba totalmente em alguns casos, porque ele não depende de mais nada para surgir! Porém, mesmo sabendo que são coisas diferentes (a alergia do refluxo), eu já notei, na prática clínica, que a alergia piora o quadro do refluxo!

CÓLICA E CHORO EXCESSIVO 

Esses sintomas não são específicos de alergia alimentar e são muito difíceis de quantificar. Todos escutam que “até três meses de idade, o sistema gastrointestinal e o sistema nervoso estão muito imaturos, o que leva a cólicas e choro naturais”. A própria flora intestinal do bebê está sendo colonizada nesse período (por bactérias boas), o que está associado a

cólicas. 

Então, quando devemos ligar o alerta para um choro excessivo e uma cólica anormal, ligados à alergia alimentar? 

Estudos nos mostram que, em média, um bebê chora por cólica cerca de três horas por dia, mais frequentemente no período do fim da tarde/início da noite. Então, se passa dessa média, você já pode ligar um alerta de atenção.

A seguir, trarei como exemplo dessa cólica/choro excessivo o meu próprio caso com meu filho, João Artur.

EXEMPLO PESSOAL

O João Artur, meu filho, tinha sintomas respiratórios (chiado clássico dos bebês alérgicos) e muitos sintomas gastrointestinais (dor, distensão abdominal, gases, muco, sangue nas fezes, assaduras etc), além de muito choro e muita cólica. Como eu era mãe de primeira viagem, eu não tinha parâmetro do que era normal de um recém nascido e do que era anormal.

Meu filho chorava e contorcia de dor por diversas horas, muito mais do que três horas ao dia. Durante um período (bem no início, quando eu ainda não sabia das nuances de um tratamento de um bebê alérgico), ele chorava sem parar de 20:00 horas até meia noite, quando ele dormia de exaustão. O choro era excessivo, de dor, estridente.

Muitas vezes, quando esse choro excessivo se dá entre 0 e 3 meses de idade,  nós ainda temos esperança de que ele seja apenas decorrente da cólica do recém nascido. Contudo, se ao passar dos 3 meses o choro permanecer, não espere mais! Vá até o médico, porque essa situação já sai do quadro de normalidade.

O tempo de choro e de cólica, portanto, são fatores que nos mostram um possível quadro de alergia alimentar. Sempre opte por um profissional para uma melhor interpretação desses sintomas.

IMPORTANTE!

É de extrema importância dizer que esses sintomas – cólica e choro excessivo – geralmente NÃO aparecem isolados quando pensamos em um quadro de alergia!

Em relação à alergia alimentar, existem grandes chances dos sintomas descritos acima aparecerem juntos de outros sintomas gastrointestinais – como assaduras.

As assaduras podem ser normais e inclusive decorrentes de outros fatores que não alergia alimentar (aplicação de uma vacina; um dente que esteja

nascendo), mas, quando analisamos o quadro como um todo, é importante ter em mente que o choro e a cólica não vêm sozinhos como únicos sintomas de um quadro de alergia alimentar.

Como saber? Veja os questionamentos abaixo:

• É uma assadura muito persistente? Que não vai embora por nada?

• Você já levou ao médico, já faz uso de uma pomada boa e a assadura continua?

• A assadura some momentaneamente e logo depois reaparece?

• Você já percebeu fissuras anais? Você já identificou sangramento externo?

• Você já trocou até a marca da fralda/ do lenço umedecido e a assadura permanece?

• Você seca bem o bumbum do bebê e a assadura persiste?

• Se você respondeu sim, a assadura da criança pode estar ligada à APLV.

DIARREIA

Nesse momento muitas mães se perguntam: “mas o que é diarreia para um bebê?”. Sim, sabemos que quando um bebê apenas mama ou faz uso de fórmula, as fezes são amolecidas. Então, quando falamos de diarreia, estamos falando sobre uma mudança de padrão:

Eu, por exemplo, cheguei a trocar a fralda do João Artur treze (13) vezes em um dia. Isso não é uma quantidade normal. As fezes praticamente escorriam (uma água com pouca cor e pouco resíduo).

A partir de quatro defecações ou mais por dia já, você, mamãe, já pode acender o alerta e procurar um médico.

Essa diarreia vem, geralmente, acompanhada de dores, de gases, de choro excessivo (ao refluxo, às vezes).

LEMBRETE

Em relação aos sintomas de reações IgE Não Mediadas, é preciso sempre ter em mente que é a soma desses sintomas que denuncia um quadro potencial de alergia alimentar. Não é porque seu bebê apresentou um desses sintomas isoladamente que significa que ele pode ter uma alergia alimentar. Na verdade, geralmente somam-se mais de 2, 3 sintomas.

CONSTIPAÇÃO (prisão de ventre)

Esse é um sintoma muito conflitante. Alguns estudiosos dizem que esse sintoma é muito inespecífico, outros não atrelam ele à alergia alimentar, mas alguns especialistas fazem sim relação da constipação com a alergia desse tipo. Eu acompanho casos em que a criança apresenta quadros de constipação quando entra em contato com a proteína do leite de vaca.

O que seria um quadro de constipação?

Aqui, mais uma vez, precisamos pensar no que era o padrão da criança antes.

Se houve alguma mudança e a criança parou de evacuar, isso é um ponto de atenção. 

Pensemos em uma criança que é amamentada -> como o leite é muito bem digerido e muito bem absorvido (porque ele é compatível com o corpo do bebê), fisiologicamente,é normal que a criança não evacue no intervalo de até cinco dias. Claro que o que chamamos de normal deve apenas ser visto dessa forma se a criança não tem desconforto, dor e irritabilidade na hora de evacuar. Quando pensamos em uma criança que usa fórmulas, as coisas já mudam -> como a fórmula não é tão bem digerida e absorvida quanto o leite materno, ela proporciona uma maior quantidade de matéria residual a ser expelida. Então, se uma criança passa três dias sem evacuar com essa dieta de fórmula, já temos um ponto de atenção. Na dúvida, sempre procure um gastropediatra. 

O que os estudos dizem?

Todo o nosso trato gastrointestinal (desde o esôfago até a última parte do intestino) possui um movimento peristáltico, que possibilita o correto funcionamento do sistema digestório.

Nesse movimento, a digestão é possibilitada: os alimentos percorrem apenas em uma direção, o corpo faz a absorção de todos os nutrientes necessários e o que não é digerido é expelido em forma de fezes.

Estudos afirmam que, quando essa constipação (ligada à alergia) ocorre, o movimento peristáltico sofreu uma dismotilidade (sinal de que a alergia afetou o sistema nervoso, que é o responsável por esse movimento), ou seja, o peristaltismo fica extremamente lento (algumas vezes quase parado). 

Nesse cenário, as fezes ficam presas no trato intestinal da criança, o que causa gases, desconforto, dor ao evacuar (porque quanto mais tempo o bolo fecal fica preso, mais as fezes ficam duras e ressacadas) e até mesmo lesões anais. Mais uma vez, é importante lembrar que a constipação também pode ocorrer, independentemente de um quadro de alergia.

FPIES (Síndrome de Enterocolite Induzida por Proteína Alimentar

FPIES é um tipo de sintoma de reações IgE Não Mediadas que tem uma peculiaridade: ele acontece muito rapidamente, ao contrário dos outros sintomas. Geralmente, nós ligamos “IgE Mediadas” às reações imediatas, mas também há casos nos quais a reação IgE Não Mediada é quase que imediata.

LEMBRETE! 

Temos um material exclusivo sobre FPIES e também há uma live no meu canal do YouTube sobre isso. Assistam à aula e leiam o material para que vocês possam entender melhor o que é, quais são os sintomas e o que pode ser feito.

SINTOMAS RESPIRATÓRIOS

Em relação aos sintomas respiratórios, há muita dúvida (até mesmo para nós, mães que já temos o diagnóstico de nossos filhos). Tosse, muco, nariz congestionado, quadro asmático, quadro de rinite, quadro de bronquite, quadro de sinusite, quadro de pneumonia… Será que esses sintomas são da

alergia alimentar? 

O que nós mais precisamos estar atentas é ao fato de que esses sintomas são extremamente frequentes em crianças e que eles são multifatoriais. E, na maioria das vezes, eles não estão ligados a alergia alimentar,mas 

sim a outras causas, como vírus, bactérias, pelos de animais, pólen, ácaros.

Estudos nos mostram que quando algum desses sintomas respiratórios está

ligado à alergia alimentar, muito raramente esse sintoma se apresentará de modo isolado

Exemplos:

• Sintomas respiratórios somados a alguns sintomas de pele;

• Sintomas respiratórios somados a alguns sintomas gastrointestinais. 

OTITES (infecção de ouvido) E FEBRE

Os estudos mostram que as otites (infecções de ouvido) não têm ligação com alergia alimentar, na imensa parte das vezes.

O mesmo pensamento aplica-se aos quadros de febre: não há estudos que comprovem que febre é resultado de reação alérgica e os médicos

especialistas são enfáticos em dizer que quadros febris não estão ligados a reações alérgicas.

Contudo, eu, Juliana, deixo três pontinhos nesse tópico. Acredito que mais estudos poderiam ser feitos à respeito dessa possível ligação, porque,

como já vimos, reações alérgicas alimentares podem acometer o sistema nervoso, o que pode envolver mecanismos do centro de regulação de temperatura do corpo humano.

Até o momento, porém, o que os especialistas nos dizem é que não há essa relação.  

SANGUE NAS FEZES

Esses sintomas são clássicos e muito nos levam a crer que a causa é a alergia alimentar. Sim, a maior parte das crianças (bebês e crianças novas) que apresenta quadro de sangramento intestinal possui um quadro de alergia alimentar, muito provavelmente APLV.

 Atenção: nesse caso, estamos falando de sangue vivo e visível! Você não deve fazer um exame de sangue oculto nas fezes (esse exame não é conclusivo para esse diagnóstico e nem mesmo para acompanhamento)!

Falamos em sangue vivo, porque, quando há uma reação alérgica que lesiona o intestino, a lesão se dá na porção final do intestino! Por isso, o sangue fica visível, com cor viva e sai nas laterais das fezes! 

Sangue nas fezes, nessas condições, NÃO É NORMAL! Acenda a luz máxima para alergia alimentar e procure um gastropediatra – é ele quem fechará o diagnóstico. 

MUCO NAS FEZES

Quando o muco vem acompanhando de sangue nas fezes, os cuidados a

serem tomados são os mencionados acima.Entretanto, o muco ISOLADAMENTE nas fezes. Entendemos por “isoladamente” somente o muco, sem quadro de sangramento; gases; dor; assadura; fissura; distensão; refluxo; vômito; diarreia; etc. NÃO é sintoma de reação alérgica

Muco, nessas condições de isolamento, é normal! Ele é uma proteção intestinal que pode ser secretada por diversos fatores não alérgicos. Acalmem-se e prestem atenção. Apenas se a criança passar a apresentar outros sintomas depois do muco isolado é que você deve se preocupar. .

“Ah, mas o meu bebê já foi diagnosticado, já estou realizando a dieta restritiva, o sangue já parou, os gases pararam, a dor parou, o refluxo parou, ele não está mais irritado, ele voltou a dormir bem! Não tem nenhum outro sintoma, mas o muco persistiu! Isso é sinal de que o meu bebê ainda está em reação alérgica?”  

Não! Isso não nos diz que o bebê ainda está em reação. Geralmente, o muco é a última coisa a sumir e, às vezes, ele não some. O muco pode ser secretado até mesmo para facilitar a passagem de fezes no trato intestinal do bebê.

Só o muco, isoladamente, não representa sinal de reação alérgica. E isso é

válido tanto para a criança que acabou de apresentar apenas o sintoma do

muco quanto para a criança que entrou em tratamento e só passou a

apresentar o muco. Fiquem tranquilas!

Dúvidas

Entenda um pouco mais sobre o assunto, a partir da experiência de outras mamães como você!

“A gastro do meu bebê quer fazer uma colonoscopia para saber se é mesmo alergia, porque ele não está estabilizando. Porém ele só tem 8 meses. Isso tem necessidade?”

A colonoscopia é um tipo de exame mais invasivo e, geralmente, os médicos pedem para fazer em casos muito pontuais, nos quais eles têm a certeza que a dieta de restrição foi orientada corretamente e está sendo seguida fidedignamente.

Por exemplo, antes de pedir um exame como esse, o médico precisa ter a plena certeza de que todas as orientações e processos possíveis – tais como a realização do TPO e a orientação da dieta restritiva – foram dados e feitos da forma correta e de que não houve nenhuma melhora no

quadro clínico do bebê.

Se tudo isso já foi feito e não houve nenhum diagnóstico ou melhora (o bebê continua apresentando sangue nas fezes, por exemplo), o médico pode pedir esse exame para um diagnóstico diferencial (investigar uma outra causa). 

“Meu bebê tem todos os sintomas de APLV e já estou na dieta restritiva, porém meu ginecologista me passou um anticoncepcional que tem lactose. Há alguma contraindicação?”

Alguns bebês são extremamente sensíveis e que reagem, por exemplo, a traços da proteína do leite de vaca (pequenas quantidades da proteína aderidas/agarradas a superfícies ou até mesmo a estruturas moleculares próximas da proteína do leite de vaca, como a lactose). Então, anticoncepcionais que contém lactose podem conter traços da proteína do leite de vaca aderidas ao seu complexo molecular. Se o bebê for muito sensível, ele reagirá. Portanto, a resposta para essa pergunta depende da sensibilidade do seu bebê. 

“Minha filha não está estabilizada. Se ela tiver mais um episódio de sangue nas fezes, a pediatra pediu para trocar a fórmula extensamente hidrolisada por uma fórmula de aminoácidos. Tem a necessidade de trocarmos?”

Em torno de 10 a 15% das crianças (as mais sensíveis) não toleram mesmo a fórmula extensamente hidrolisada – foi o caso do meu filho, inclusive. Fiz o teste por 15 dias com essa fórmula e ele não estabilizou, o que, depois, me fez passar para a fórmula de aminoácidos. Contudo, essa NÃO é a prática que eu gosto! No meu programa, eu faço diferente!

A prioridade é fazer com que a criança pare de reagir e de sentir dor! Então, por que não começar com a fórmula de aminoácidos e, se depois de um tempo, no qual a criança parou de reagir e apresentou uma leve melhora, tentar uma fórmula extensamente hidrolisada? Eu prefiro trabalhar

assim! 

“É verdade que, no caso dos IgE Mediados, a mãe não precisa fazer a dieta de exclusão? É preciso confirmar ou só um exame IgE positivo já libera?” 

Em alergia, nós nunca podemos generalizar e dizer que “todos são” – essa é uma premissa muito importante. Existem crianças (eu acompanho algumas, inclusive) que são IgE Mediadas para a proteína do leite e IgE Não Mediadas para a proteína da soja, por exemplo!

O sistema imunológico de uma criança pode, dependendo da proteína, responder de maneira diferente, com mecanismos de respostas diferentes.

Geralmente, na grande maioria dos casos, quando a criança é apenas IgE Mediada (específica para um alimento, como leite ou ovo) acima de 0,10 (alterada, elevado) e ela faz reações quase que instantaneamente, ela não reage ao leite materno. O profissional de saúde descobrirá isso perguntando sobre a história do caso.

“Segui suas orientações e meu bebê já está bem melhor, sem sangue nas fezes e melhorando mais a cada dia.” 

Que maravilha! Fico extremamente feliz! Isso só reforça o quanto uma boa orientação da alimentação e de todos os outros cuidados que nós precisamos ter fazem a diferença. O que eu recebo de mensagens de mães (no meu programa) com cortes restritivos desnecessários – cinco a dez alimentos – em suas dietas alimentares é assustador, além de que essa prática representa um risco nutricional, um desgaste emocional e psicológico (afeta até mesmo nossa vida social, já que muitas vezes não podemos até sair de casa para comer fora)! É preciso ajustar isso da forma correta, garantindo uma boa nutrição, principalmente.

“Sobre proteínas do leite humano, eu pesquisei e vi que há no leite caseína e alfa lactoalbumina. O meu filho mama há dois anos. Será que o meu leite está aumentando a IgE dele?” 

Não. A configuração da proteína do leite humano é totalmente diferente da configuração da proteína do leite bovino. Proteínas do leite HUMANO não causam alergia em bebês, fato comprovado em todos os estudos disponíveis sobre esse assunto.

“Minha bebê está com quatro meses e estou na dieta a cinquenta dias. Ela fazia fezes com sangue e hoje esse quadro já amenizou, mas ainda não sumiu. Ela já está estabilizada?”

O processo de cicatrização do intestino pode levar entre 30 a 40 dias, dependendo do quanto o intestino foi machucado no processo alérgico. Se nenhum outro sintoma da alergia está ocorrendo, entendemos que essas aparições aleatórias de sangue são mais decorrentes de um processo de cicatrização. 

“Meu filho hoje tem 9 anos e nunca teve sangue nas fezes, mas possui os outros sintomas. E agora?”

Eu não sei se você já tem o diagnóstico fechado, mas procure um gastropediatra para a orientação correta do TPO de fechamento de diagnóstico. 

“Como fazer a reintrodução alimentar em crianças que apresentam reações mistas?”

Acesse minhas aulas no meu canal do YouTube que eu explico com detalhes esse processo. Resumidamente: nós fazemos ela da mesma forma da reintrodução de IgE Não Mediadas. Isso porque como as crianças mistas também podem ter reações mais tardias, nós precisamos oferecer de 3 a 4 dias o mesmo alimento. 

“Se o meu bebê tiver a doença do refluxo a APLV é descartada ou estão ligadas?”

Como falamos neste material, uma coisa independe da outra. Da mesma forma que elas podem coexistir, elas podem existir separadamente. A única conclusão que nós podemos tirar é que, quando as duas coisas existem, a alergia alimentar piora o quadro do refluxo. 

“Meu bebê tem muita irritabilidade, prisão de ventre, vômitos à jato, dermatite e assaduras no bumbum…” 

Luz acesa! Vá até o médico para a realização do diagnóstico correto e para orientações mais específicas. 

“Se meu filho toma leite e o entorno da boca dele fica vermelho, mas some em questão de minutos, é APLV?”

Tem um tipo de reação que é localizada na boca mesmo. Isso pode ser uma dermatite de contato ou uma reação imediata, porém só na região da boca. Um exame de sangue pode auxiliar. Pode ser uma reação APLV, mas muito local. A maior preocupação que você deve ter é em relação à aparição dos outros sintomas.

“Meu filho é APLV. Nos exames, descobrimos que ele é IgE positivo para o leite e IgE negativo para a soja. Já tentei introduzir a soja e as reações são tosse, chiado e dificuldade para respirar. Ele é mediado ou misto?”

Pode ser que seu filho seja IgE Mediado para o leite e IgE Não Mediado para a soja. Para que seu filho seja misto, ele precisará apresentar os sintomas ou de dermatite atópica, ou de asma, ou de esofagite/ gastrite/ gastroenterite eosinofílica.

“Infelizmente, muitos médicos estão desatualizados. É necessário uma atualização em APLV e demais alergias alimentares com urgência!”

Não só médicos, mas os profissionais de saúde como um todo. Nutricionistas, enfermeiros, todos os profissionais precisam dessa atualização. O número de casos vem aumentando muito e nós precisamos, sim, nos unir como mães (eu, como profissional de saúde, também), para contribuir para essa nova realidade da qual necessitamos.